Geração exonerada (Bernardo Almeida)
2.
Geração exonerada
Na distinção entre um sorriso e uma
lágrima
Pende para o absurdo desejo da
catástrofe
Uma pavorosa mania não mais possível
De ser expressa por meio de gestos
calculados
Os movimentos, sequencialmente
imperceptíveis,
Protegem o esquecimento que tomará
conta da tua alma
Descarnada, desnuda, etérea, imaterial
Dilacerada e agredida como cada
milímetro da tua ossada
Escondes esse peso em um jazigo
distante
Onde apenas olhares mortos te alcançam
Colabora com a terra que fornece a
colheita
Da qual tanto te beneficiaste em vida
Colhe agora a raiz - e deixa o fruto
para os que restam
Contentas-te com a jaula em que te
encerras
Sem praguejar contra o fardo que te
aflige
O teu rastro, em breve, será apagado
Para que as novas
gerações sejam mais belas e ternas
Menos hipócritas, imundas, atávicas e
apáticas
Como as guardas, os punhos, os corações
e as lanças
Dessa tacanha representação da
realidade humana
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