Fumaça (Bernardo Almeida)
18. Fumaça
Vi ontem a tua face flamejante
Rasgar a vista da minha janela
E destronar as aparências de uma
superação cansada de mentir
Dizendo que foi prontamente deslocada à
ilha da paciência
Tão catastrófica quanto a pedra que me
ancora ao chão
Impedindo-me de voltar a voar até a
morada das nuvens
Todas bêbadas e saudosas: meretrizes
sem rumo
Transitando com ar de superioridade -
atrozes
Escolheram morar distante das frívolas
vidas humanas
Para que não possam ser incomodadas com
frequência
Pela besta bípede que alastra a
catástrofe por onde pisa e passa
E deixa pegadas toxicamente
desafiadoras
Avisando, como placas, que um dia
seremos proibidos de retornar
Ao nosso ponto de partida
Berço que não pariu, mas acolheu,
Entre a virtude e a colheita: a desdita
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